“...Desde que existe como gênero literário, a filosofia recruta seus seguidores escrevendo de modo contagiante sobre amor e amizade.” Peter Sloterdijk
A obra de Marilá Dardot baseia-se em alguns pressupostos. Em primeiro lugar, apóia-se numa crença ferrenha na escrita como gatilho humanístico e afetivo que nos reposiciona diante de nós, dos outros e do mundo. O ângulo escolhido não resvala no esmiuçamento da linguagem e do discurso pelo viés estruturalista ou mesmo pós-estruturalista, mas na capacidade poética das fissuras, das pausas, da volumetria e da sensualidade do universo da escrita (o livro como objeto de desejo e de afeição, capítulos, espaçamentos dos textos, o sentido dos textos, coleções de palavras e de frases). Sua intenção me remete à introdução do livro Regras para o Parque Humano de Peter Sloterdijk, em que o autor pontua que “livros, observou certa vez o escritor Jean Paul, são cartas dirigidas a amigos, apenas mais longas”. E continua dizendo que essas cartas de amizade à distância são enviadas ao mundo muitas vezes sem destinatários precisos e podem chegar até mesmo aos que ainda nem nasceram. O remetente tem consciência de que o envio dessas missivas tem o poder de multiplicar indeterminadamente oportunidades de estreitar amizade e essa relação entre escritor e receptor representa um caso de amor à distância. “Isto exatamente no sentido de Nietzsche, que sabia que a escrita é o poder de transformar o amor ao próximo ou ao que está mais próximo no amor à vida desconhecida, distante, ainda vindoura”, finaliza Sloterdijk. Marilá evoca a incomensurabilidade da vida espelhada neste universo.
Em Rayuela, trabalho de 2005 inspirado no livro O Jogo da Amarelinha (1963), de Julio Cortázar, a artista trama um diálogo com a obra máxima deste autor argentino. Como se sabe, o enredo foca-se mais no livro do que propriamente na vida dos personagens. A leitura dos capítulos pode ser feita salteada e novos caminhos podem ser percorridos na construção de entendimentos, como se propõe o jogo citado no título. Marilá estrutura uma narrativa pelo deslocamento do texto, que é suprimido em quase sua totalidade, sobrando apenas as passagens em que é descrito um deslocamento espacial e as páginas e capítulos.
O segundo pressuposto de sua obra aponta para o compartilhamento, o arquivamento e a generosidade como partícipes da formalização de seus trabalhos. Em vários momentos de sua trajetória, Marilá Dardot ativa a colaboração como fundamento do afeto e da escrita. Uma das primeiras vezes em que esse aspecto aparece é na obra O Banquete (2000). A artista toma a obra de Platão que versa sobre o amor como o mote do trabalho. Ela pede a amigos que enviem um texto de sua preferência sobre o amor. As fontes escolhidas são as mais diversas. O conjunto arregimentado é impresso em folhas de acetato transparente e encadernado para formar um novo livro. Ao serem sobrepostos, os textos causam uma polifonia ensurdecedora e conseqüentemente, incomunicabilidade. Em Biblioteca de Babel, instalação composta por redes, caixotes, plantas, esteiras, almofadas e livros, Marilá constrói uma biblioteca provisória, um local de leitura confortável e informal em que as pessoas podem ler pelo tempo que quiserem. A coleção que se encontra à disposição é formada por livros “doados” temporariamente por amigos, visitantes, desconhecidos, ou qualquer um que atende ao chamado da artista. O convite é feito alguns dias antes da abertura: “Há algum livro que você gostaria de compartilhar com o mundo?”. Ao serem recebidos, os livros são fichados e carimbados, como um símbolo de pertencimento intangível e eterno a esta Biblioteca “que pode conter todos os livros do mundo” , a exemplo do conto Biblioteca de Babel, de Jorge Luis Borges, outro autor argentino de suma importância para a inventividade da escrita no século XX. Esta biblioteca interminável, infinita, eterna, ilimitada e periódica é uma metáfora do prazer e angústia da incomensurabilidade do conhecimento humano. Ao final de cada etapa da exposição (que ocorreu em São Paulo e no Recife), os livros eram devolvidos aos donos e deixavam sua marca indelével neste arquivo in progress.
A atitude artística de Marilá Dardot aponta para o reavivamento de um outro tempo: de suspensão, de doação, de afeto, de contemplação, de degustação no mais amplo sentido, de humanidade, em suma. É um contraponto a uma sociedade do desapego, do descartável, do imediato, da histeria, do medíocre e do individualismo.
marilá dardot: rayuela, 2005
I would have preferred to be enveloped in words, borne away beyond all possible beginnings. At the moment of speaking, I would like to have perceived a nameless voice, long preceding me, leaving me merely to enmesh myself in it, taking up its cadence, and to lodge myself, when no one was looking, in its interstices as if it had paused an instant, in suspense, to beckon to me. There would have no beginnings: instead, speech would proceed from me, while I stood in its path - a slander gap - the point of its possible disappearance.
(Michel Foucault, "The Discourse on Language". In: The Archeology of Knowledge, 1972, Pantheon Books, New York, p. 215)
O conjunto de trabalhos de Manlá Dardot desde o final dos anos 1990 caracteriza-se, entre outras questões. pelos diversos tipos e níveis de colaboração que ela estabelece com outros artistas, escritores, pensadores e o próprio público visitante de suas exposições, propondo uma mudança de estatuto de certas referências no espaço do cole¬tivo e da cultura, ao mesmo tempo em que fricciona as relações e as categorias que organizam as diversas praticas dentro do território da arte hoje. A partir de uma estratégia conceitual e de apropriação, aliada a um sutil espírito crí¬tico, a artista constrói um espaço ampliado, interdisciplinar, onde o trabalho surge de uma estreita relação com um lugar, um objeto, uma situação ou circunstância. Embora simples e diretos, planejados e executados de modo enge¬nhoso, vídeos, livros, instalações e esculturas oferecem uma experiência de ordem subjetiva e poética, provocada por pequenos gestos, deslocamentos e rupturas, que alteram a percepção da própria arte, da cultura e da relação delas com o mundo. Todos são entendidos sempre como parte de uma mesma paisagem, em constante construção. Trata-se de trabalhos que privilegiam a contemplação silenciosa, o caminhar solitário, e que propõem uma experi¬ência de interação para além da sua materialidade no espaço - algo semelhante a delicada distância compartilhada entre o autor e o leitor de um livro
Entre seus diversos projetos, Marilá vem desenvolvendo uma série de trabalhos que tomam o livro e a escrita como matéria-prima formal e conceitual para seu desenvolvimento. Neles, importantes referências da literatura e da filosofia ocidental são “traduzidas” da linguagem verbal para uma experiência num território estendido do visual, como que procurando conferir materialidade às idéias e questões que fundam essas obras. Eles exploram outras formas de percepção e interpretação dos textos e da escrita. Nesses trabalhos, a artista parece querer amalgamar¬se com as obras para ser capaz de penetrar no centro da linguagem, enredando-se com palavras e conceitos, num exame minucioso de seu significado. Pode-se associar essa estratégia àquela descrita na aula Inaugural de Foucault no Collége de France, em 1971, quando ele expressou o seu desejo de não ter de partir do zero, do princípio, para iniciar um discurso, mas, em lugar disso, escorregar imperceptivelmente para dentro de um já existente. Desse modo, Marilá detecta outras narrativas nos interstícios das escrituras de que se apropria, situando o texto original entre a experiência intelectual e física dele, e a reflexão por ele motivada. E é nesse frágil intervalo de tempo e espaço, mais ainda que aquele da instalação em que o olho e o corpo podem perambular, que a verdadeira relação entre o trabalho e o espectador acontece.
Na vídeo-instalação Hic et Nunc, 2002, uma projeção em loop sobre uma lousa branca mostra, continuamente, uma mão que escreve um verbo. Uma vez escrito, este é imediatamente apagado para dar lugar a um novo verbo, e assim sucessivamente. Aqui a artista trabalha o espaço interno das palavras, a busca da essência das coisas, dos significados que elas designam, o peso que carregam e como elas definem um espaço físico e mental. Ao mesmo tempo, afirma a escrita como desenho, enunciação, gesto primeiro no registro da vontade, a materialização do nome e da idéia, trazendo referências especificas aos processos de pensar e fazer da artista. Na instalação Pensa¬mento do Fora (2001, no Museu de Arte da Pampulha), inspirada no ensaio de Michel Foucault com o mesmo título, Marilá criou placas de sinalização como as existentes nos jardins do museu, só que com citações emprestadas da história da literatura e do pensamento, criando uma biblioteca ao ar livre sobre temas como a arte, o tempo e a natureza. Para A Origem do Obra de Arte (2001), numa referência ao conhecido texto de Martin Heidegger, foram criados 150 vasos de cerâmica em forma das letras do alfabeto, que, com o acréscimo de terra e sementes, eram preparados pelos visitantes e colocados juntos aos jardins do mesmo museu, formando ou não palavras e frases. Nesse caso, a obra é o resultado da colaboração entre a artista e o espectador, trazendo questões como a relação entre as partes na constituição de um espaço coletivo de troca de experiências e conhecimento. Opera também com duas outras noções: a de dicionário/arquivo - fonte, referência -, e a de natureza e meio ambiente - o jardim do museu, as sementes, o desenho comentado de uma paisagem, sempre em movimento. Ao mesmo tempo, em ambos os trabalhos, Marilá apropria-se de um espaço público para delinear um lugar geográfico que, por demandar a movimentação física do espectador entre palavras ou entre diversas citações, converte-se numa espécie de biblioteca contendo todos os livros e todos os leitores.
Para a primeira edição do Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas, Marilá desenvolveu o projeto Rayuela (O Jogo da Amarelinha), que se apropria do livro com o mesmo título do escritor argentino Julio Cortázar. São 322 gravuras fotomecânicas feitas a partir de cada uma das páginas do livro, reproduzidas em seu formato original mas alteradas pela artista, que apagou todo o texto, deixando apenas fragmentos de frases, locuções e verbos que indicam movimento, passagem e deslocamento. Estão emolduradas individualmente e podem ser montadas com diferentes configurações. O trabalho se realiza como uma espécie de intertexto, aberto a outras possíveis interpretações e organizações, acentuando, desse modo, o caráter lúdico e participativo do livro original. Assim como o leitor é deslocado entre os capítulos, o espectador também é levado a construir sua própria travessia pelas páginas do livro, do mesmo modo que o personagem principal da narrativa parece movimentar-se sempre à deriva, em busca de sentido.
O trabalho toma o livro como objeto deixado, como registro de uma experiência, documento cultural e simbólico agenciado pelas suas possibilidades de tradução e reprodutibilidade; além, é claro, como sua própria pro¬posta literária: um jogo de combinações, aberto a múltiplas interpretações e leituras. Desmontado e reproduzido no espaço de galerias, ele ganha uma nova objetividade, que materializa a experiência da leitura, ainda que mediada e subjetiva (a escolha da artista foi preservar apenas as locuções e verbos de movimento). As imagens não são fá¬ceis nem sedutoras. Ao contrário, exigem do espectador disciplina e compromisso para serem lidas inteiramente, parte por parte, seguindo palavras e locuções entre longos e áridos hiatos deixados pelo apagamento do texto. Es¬paços abertos à imaginação e a novas intervenções. O visitante é lançado em uma viagem vertiginosa pelas pa¬lavras, páginas apagadas, evocações pessoais. Marilá Dardot parece levar as possibilidades de intervenções ao seu ponto limite, onde a linguagem desmaterializa-se para constituir um território de micro/macro relações com o público segundo o modo e o lugar em que é percebida, criando a noção de um espaço ilimitado e de um mundo sem fim.
Ivo Mesquita
A artista Marilá Dardot, que estará na próxima Bienal, constrói seus trabalhos a partir da relação com a literatura
A relação da artista plástica Marilá Dardot com a literatura começou cedo: quando ainda era criança, com as histórias que o pai contava antes de dormir. “Muitas eram histórias que ele inventava na hora, e eu gostava de ver como a narrativa ia se construindo naqueles momentos. Eram histórias fantásticas, como a de uma menina que morava em um prédio que não tinha elevador nem escadas”, lembra a artista, selecionada para participar da 27ª Bienal de São Paulo.
As palavras e a literatura hoje são o ponto de partida para os trabalhos da artista mineira, que primeiro cursou Comunicação Social para depois fazer o curso de Belas Artes na Escola Guignard. “Em vez de desenhar com linhas, escrevo. Em vez de compor com cores, componho com palavras”, aponta Marilá. “Acredito nas palavras, no poder utópico do texto, na pertinência do diálogo, e na capacidade de usar a linguagem para afetar o outro, para mudar um pouquinho o mundo. Meu trabalho nasce de um desejo de compartilhar, e o que mais tenho para oferecer vem do que sou, de como olho para a vida, e o meu olhar foi desde cedo contaminado pela literatura”, completa, lembrando de uma frase de Manoel de Barros: “Sou puxado por ventos e palavras”.
Alguns trabalhos de Marilá Dardot trazem no título referência a autores e obras. É o caso de Biblioteca de Babel, trabalho inspirado no conto homônimo de Jorge Luis Borges. O escritor argentino é uma forte referência no trabalho de Marilá. “O que me atrai em Borges é sua escrita precisa, enxuta, sua capacidade de misturar ficção e realidade de forma que já não saibamos mais quais os limites destas categorias”, aponta. Biblioteca de Babel é uma instalação que começa com uma pergunta: “Há algum livro que você gostaria de compartilhar com o mundo?”. É a partir dela que Marilá, a cada montagem, convida as pessoas a participarem do trabalho emprestanto à biblioteca um livro seu, que considerem imprescindível em uma biblioteca. Os visitantes também podem acrescentar seus volumes à biblioteca ao longo da exposição. No final, todos os livros são devolvidos aos proprietários. A cada nova montagem o acervo da biblioteca se transforma.
As estantes da Biblioteca de Babel são construídas com caixas, objetos normalmente usados para o transporte de objetos. No meio do ambiente há redes, almofadas, e esteiras, que devem ser usadas para quem quiser se deitar para consultar os livros. O ambiente é complementado com plantas e outros trabalhos da artista, como A meia-noite é também o meio dia (2004). A frase de Nietzsche levou a artista a encomendar um relógio de ponteiros dupla face, como os encontrados em estações de trem e metrô. Diferente dos relógios tradicionais, onde os ponteiros levam 12 horas para dar uma volta completa, os ponteiros do relógio de Marilá demoram exatamente 24 horas para dar uma volta completa. “É um relógio que propõe um tempo modificado, retardado, mais lento. Ora parece atrasado, ora adiantado. Ele coincide com o horário oficial de Brasília apenas ao meio-dia”, explica a artista, uma das cinco vencedores da primeira edição do Prêmio CNI-SESI Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas.
Em outros trabalhos, Marilá usa a forma do livro. É o caso de O Livro de Areia (1999), outra referência da artista a Borges. Em um conto homônimo, o escritor conta a fantástica história de um homem que adquire de um estranho um livro infinito, que sempre muda ao ser manuseado. O livro de Marilá tem as páginas de espelhos, que ao refletirem o entorno torna-se também um livro de imagens infinitas. Um trecho do conto de Borges está reproduzido no início do livro, enquanto no final está o fragmento 91 do filósofo grego Heráclito, no qual diz que um homem não se banha duas vezes nas águas do mesmo rio. Outro objeto-livro é Sob Neblina. Em 2004, Marilá começou a colecionar frases com a palavra silêncio, tiradas dos livros que ia lendo. “Ao compor este arquivo, percebi o quão polissêmica é essa palavra, que pode evocar de terror a calma, de desprezo a cumplicidade. Assim fui classificando os tipos de silêncio”, explica. Parte do arquivo se materializou em 20 cadernos de vidro, cada um com dez diferentes frases.
Frases de diferentes autores também estão em Pensamento a Fora, apresentado na primeira exposição individual em sua cidade natal, Belo Horizonte, em 2002, no Museu de Arte da Pampulha. Marilá artista clonou as plaquinhas de identificação do museu trocando as mensagens originais, que restringem ações, como não pise na grama e proibido o trânsito de bicicletas, por citações de escritores como Fernando Pessoa e Nietzsche, sobre tempo, vida, natureza e velocidade, abrindo a percepção do visitante. Em outro trabalho da mesma exposição, A Origem da Obra de Arte, Marilá transformou o espaço em uma espécie de atelier de jardinagem, deixando à disposição dos visitantes vasos de cerâmica feitos em forma de letras do alfabeto, terra, instrumentos de jardinagem e 12 tipos diferentes de sementes. As pessoas podiam plantar as letras, formar palavras e colocá-las do lado de fora da sala.
Para a Bienal de São Paulo, Marilá está desenvolvendo um trabalho inédito refletindo sobre o tema “Como viver junto”. A instalação reunirá vídeos que mostram um jogo de dados entre duas pessoas. “O trabalho investiga o processo de construção de um diálogo, de um pensamento e de uma forma de convivência entre duas pessoas a partir do que lhes é dado pelo acaso e pelas circunstâncias. É a metáfora de um relacionamento em contínua construção”, explica a artista, que há alguns anos também desenvolve um trabalho voltado para o espaço público e urbano em parceria com a artista mineira Cinthia Marcelle.
Assim como a obra de Marilá, a nova edição da Bienal também estabelece uma relação com a literatura. O tema “Como viver junto” foi inspirado no título do livro que reúne os seminários de Roland Barthes, realizados entre 1976 e 1977, publicado no Brasil pela editora Martins Fontes. O mesmo livro aparece em um dos trabalhos da artista. Durante uma noite de insônia em 2005, Marilá lembrou de uma cena do filme Uma mulher é uma mulher, de Godard, em que dois personagens se comunicam através dos títulos dos livros de sua estante. Insone é um trabalho em que Marilá reúne fotos das lombadas de livros de sua biblioteca. Além do livro de Barthes, estão publicações de Clarice Lispector, Gabriel García Marquez e Hélio Oiticica, entre outros.
Fernanda Lopes é jornalista e mestre em História e Crítica da Arte pela UFRJ.
MARILÁ DARDOT
Marilá Dardot has been creating a collection of works that have the book as a key reference. Whether alluding to specific literary or philosophical works or to the book-object in itself, her installations, videos, actions and objects establish a dialogue with the practice of writing and reading. Through this practice the artist transposes and contaminates the verbal and discursive universe into the visual and conceptual. This exhibition – the second of the Pampulha Project dedicated to young artists – gives continuation to the artist’s investigations. In two new installations, Marilá takes as a starting point the external and internal spaces of the Museum in order to visit citations and fragments, discourse and language.
In A Origem da Obra de Arte [The Origin of the Work of Art] (2002), the artist pays reference to the celebrated 1936 paper of German philosopher Martin Heidegger, an Aesthetics classic, whose conference bears the same name. Instead of quotations and texts, Marilá presents us with 150 ceramic pots shaped in the form of alphabetical letters, in addition to soil, seeds and gardening tools, disposed over simple workbenches of the Museum’s Multiuse Room. Rather than an installation per se, this is an invitation to the artwork and to work itself, through which the spectator will sow the letters in order to place the pots around the Museum’s gardens, thereby composing (or not) words out in the open. The architecture of the Multiuse Room evokes the idea of a greenhouse or a gardening studio. Instructions for use in green vinyl were applied over its glass structures – poetic sentences that counteract the Pampulha landscape: "fill the letters with soil, plough the letters […]".
What is at play here is the concept of the artwork as a possibility of realization. The image of the "construction plot" is borrowed in order to create a field of experimentation possibilities for the occurrence and the construction of the work of art, beyond the space of the actual Museum. The use of ceramic pots commissioned to a pottery of the interior suggests yet another approach: in these unfeigned and seductive objects that constitute the starting point of the move proposed to the spectator-participant, a revealing encounter is achieved between utensil/instrument on the one hand, and work/object of art on the other. Here the cross between artistic practice and craftsmanship or manual work is fundamental, something which points to the old opposition between nature and culture – which is also reflected in the spaces in which the work-artwork becomes fragmented and displaced, from a room denominated as "multiuse" to the Gardens.
Literally, the soil passes through the spectator’s hands in order to go back to the world. "To worldify" is what the artist proposes in her poetic instructions. In terms of the plastic tradition, one thinks of the presence of the earth that permeated the work of ‘60s and ‘70s artists who worked with Land Art and Arte Povera. However, A Origem da Obra de Arte does not exactly stretch the field of action of art to nature and landscape. Rather, it proposes an inverse course, one of a return to the "origins," counteracting- nature and manual work to artistic practice. In the end, it is about planting.
Pensamento do Fora [La pensée du dehors] [Outside Thought] (2002), the installation that occupies the Museum’s gardens, pays reference to an essay by French philosopher Michel Foucault, also of the same title. This work begins with the appropriation of a visual element of the Museum to propose a type of literary adherence to the world. Marilá cloned 40 small signposts of the Museum’s gardens remaining faithful to their characteristics of colour, format, typology and location. However, the prohibitive sayings of the institution ("DO NOT STEP ON THE GRASS," "CYCLING FORBIDDEN," "FISHING FORBIDDEN") give rise to quotations extracted from the history of literature and thought, which are in some way related to a broad spectre of notions, such as time, life and landscape.
"Today I will draw the scent of the trees." (M. de Barros)
"I am freed and lost." (F. Pessoa)
"Be quick, even when standing." (G. Deleuze e F. Guattari)
"Today we are more alive than ever." (C. Drummond de Andrade)
"All that is straight lies." (F. Nietzsche)
In this garden of quotes or open-air library there are multiple possibilities of access, reading and interpretation. In this case Marilá once again carried out an invitation – one to the reading and composition of fragments dispersed throughout the garden in a text belonging to the spectator-reader. Wisely a specific signpost alerts that on the outside of the Museum "everything is delicately interconnected."
— Adriano Pedrosa, curator, and Rodrigo Moura, assistant curator
Marilá Dardot was born in Belo Horizonte, in 1973; she lives and works in Rio
de Janeiro.
The exhibitions of the Pampulha Project 2002 are made possible thanks to the generous support of Luiz Augusto Teixeira de Freitas.